OVERDOSAGEM

No berço de ouro

duma manjedoura foi o meu nascedouro.

O nascimento de minhas ilusões.

Fui largado num ninho infestado de cobras

e depois abandonado

encostado em um muro todo pichado.

Condenado a pagar por pecados que eu desconheço.

Não sei qual é o meu preço?

Não sei nem o que eu mereço

para permanecer em assombros inconstantes.

Qual é o meu atenuante?

Que delito eu cometi?

Vai dizer que encontraram algum flagrante

fragrante no meu bolso cheio de ar?

Bem na verdade eu mesmo engoli!...

Usando de um truque malicioso de meliante.

Há pouco havia picotado

e logo esfarelado o cordão umbilical maternal

que tanto me amarrava

enrolava os meus ombros corcundas.

Será que agora vai dar pr` eu ser quem eu sou realmente?

Já presenciei acontecimentos desinteressantes.

Já vi tantas cidades em ruínas.

Descobri formas fórmulas

para viver sob fugas refúgios subterfúgios

em nome da libertinagem.

Sob a égide de um deus pagão

& semi-deuses de Áfricas desertas –

persigo os corações solitários

de desejos apimentados.

Sobretudo pensamentos picantes

da mocidade caminhante

errante.

Hoje aqui. Eu & meu espírito sorumbático.

Contudo moribundo.

Aprisionado numa espécie reconfigurada de incubadora.

Sedado por tubos de soros de ensaio.

Aplico a injeção heróica.

Fincando a heroína seringa venenosa

na minha alucinógena veia.

Entorpeço alucinante.

Enquanto alguém comunica que:

“Nesta clínica – neste hospital psiquiátrico

não fornece camisa-de-força

à esse alucinado ancião geriátrico

que vaga vagaroso vagabundo.”

FELIPE REY

Felipe Rey
Enviado por Felipe Rey em 28/03/2008
Código do texto: T920550