NOTURNO

Ah, esse poema que explode,
Sacode rubro em mim;
Esse festim revoltante,
Esse espinho na minha flor,
Essa dor que me fez de ninho,
Esse restante de alma em desalinho,
Ah, essa casa vazia,
Essa azia de ser,
Esse ser abstrato,
Esse retrato em branco e preto,
Essa imitação de soneto,
Ah, esse grito que se multiplica,
Essa loucura que não se explica,
Vem – porém – não fica,
Esse amor que não vivifica,
Ah essa massa fora do ponto,
Esse ponto de interrogação,
Essa canção do desencontro,
Esse superego tonto,
Esse não sei o que faço,
Esse cansaço de ser eu;
Ah, esse noturno que me envolveu