Reclamar é o ópio que me ferra!

Obceco em músicas antigas recém-descobertas

Ouço milhares de vezes até me cansar

Não há nada que me prenda mais do que a repetição

Repetir me traz um acalento inestimável

Sentir o ar na garganta e exalá-lo

Observar as cores que já tenho em mim internalizadas

Ouvir as letras em minha alma gravadas

"E quando minha fé falhar, ser flecha

Para não errar o alvo"

Ouvi Ivysson repetidamente por meses

Sentindo em cada estrofe meu próprio interesse

Perseguindo uma espécie de esperança

Que me cubra nestes dias tenebrosos

Onde não há cor ou música que me tire deste escombro

Perdida numa dor imaginária que não sei largar

Apaixonada pela lamuria sem conseguir dela desapegar

Aprendi desde cedo que a xícara está gradativamente a esvaziar

E o copo cheio é a fantasia perfeita a se almejar

Sinto que em mim, a satisfação tende a me abandonar

Pois questiono e reclamo em demasia sem conseguir me parar

Língua reclamona que na boca nunca parece relaxar

Que só exterioriza o que o cérebro tende a rebobinar

São reclamações diárias que são mais como um natural habitat

Num ambiente cheio de miasma que me impede de respirar

Reclamar ou respirar? Eis a anestesia do ar...