Madrugada com conhaque
A garrafa de conhaque
— meio vazia como meus sábados —
me contou que viu
um tapete voador
desfiar-se na fumaça do meu cigarro.
Ele dançou entre as cinzas,
beijou o abajur
e fugiu pela janela
como um verso que se recusa
a ser escrito.
Eu deveria tê-lo seguido.
Mas um blues suave no rádio
me prendeu ao chão
com seus fios melancólicos.
Agora fico aqui:
o último homem na Terra,
o rei de um apartamento vazio,
enchendo o cinzeiro
com meus navios de papel
que nunca zarparam.
O tapete voltará?
Ou será apenas
mais uma alucinação
entre o terceiro e o quarto copo,
quando a noite escorre
e os objetos ganham vida
para rir de mim?