Madrugada com conhaque

A garrafa de conhaque

— meio vazia como meus sábados —

me contou que viu

um tapete voador

desfiar-se na fumaça do meu cigarro.

Ele dançou entre as cinzas,

beijou o abajur

e fugiu pela janela

como um verso que se recusa

a ser escrito.

Eu deveria tê-lo seguido.

Mas um blues suave no rádio

me prendeu ao chão

com seus fios melancólicos.

Agora fico aqui:

o último homem na Terra,

o rei de um apartamento vazio,

enchendo o cinzeiro

com meus navios de papel

que nunca zarparam.

O tapete voltará?

Ou será apenas

mais uma alucinação

entre o terceiro e o quarto copo,

quando a noite escorre

e os objetos ganham vida

para rir de mim?

Claudeth Oliveira
Enviado por Claudeth Oliveira em 25/03/2025
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