LÍNGUA

Sou a língua ferida,

navalha afiada em murmúrios velados,

que corta o silêncio,

mas também cura,

no toque macio de palavras pensadas.

Sou a língua felina,

que desliza ágil entre dentes cerrados,

despertando verdades ocultas

ou venenos guardados.

Cabe no céu da boca,

mas se lança ao infinito,

cósmica viajante

nos labirintos do dito e do não dito.

Sou a língua poliglota,

que sussurra, grita, cala,

traduz o mistério do ser

em preces ou fábulas.

Amargo, doce,

saliva que carrega a vida,

ora fel, ora mel,

prova o mundo em cada despedida.

Sou a língua que fere

quando o orgulho é espada,

mas que exalta,

quando o amor se faz morada.

Lambo feridas,

saboreio histórias,

guardo em meu sabor

a memória de mil glórias.

Entre palavras e silêncios,

sou ponte ou abismo,

sou sentença ou abrigo,

sou a língua

dom e castigo?

Tião Neiva

TIÃO NEIVA
Enviado por TIÃO NEIVA em 27/02/2025
Código do texto: T8274061
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