OLHOS DE BRASA
Quando vi, já era o nada,
um vazio denso, sem cor, sem estrada.
Olhos de brasa me fitavam,
como quem pergunta: "Onde estão?"
Mas nada restava, nem sombra, nem rastro,
só ecos distantes de um mundo nefasto.
Os sentimentos? Morrendo, sufocados,
sob névoas escuras de tempos passados.
Pensavam que eu tremia, que eu cedia ao temor,
mas a dor que me ardia era fogo maior.
O suor que escorria, cortante, febril,
era lâmina de sal num oceano hostil.
E ali, no limite, entre o real e o abismo,
vi que a desilusão se veste de exílio.
Foi um sonho Dantesco, um grito sem som,
um tempo suspenso que nunca se vai..
Tião Neiva