sanidade

estou sozinho

sozinho

sozinho

sozinho

como uma palmeira ao vento

como um rato no esgoto

como um prisioneiro em sua cela

como um homem em um quarto escuro

no precipício faço a pesagem

sobre o que partiu e sobre o que ficou

amor e rotina

esperança e desilusão

abraços e abandono

planos de vida e aceitação de morte

não estou sozinho

não

não

não

tenho aqui comigo as sombras

que me sussurram o que devo dizer

ditam o que devo escrever

em colapso meu corpo se rende

deita-se em lençóis de sangue

respira afobado em medo

sem resposta e sem afago

sem luzes e sem esperança

as estrelas se escondem

por trás de nuvem com cor

de água suja

o que se passa? não sei dizer

com cada vez menos sentido

pareço insistir

com cada vez menos qualidade

pareço querer dizer

que nada mais tenho a oferecer

uma casca vazia recheada de vermes

caminhando em vão por esta estrada tortuosa

tateando cego e surdo por ilusões

de insanidade

por favor, ó pai

torno-me para ti em pedido desesperado

não há mais o que ser feito

as respostas levaste contigo

e as dúvidas me destroem sem pausa

à deriva

neste mar de inconcebível

em sua capacidade de matar

aguardo sem paciência o momento no qual

finalmente afundarei e conhecerei seu fundo

seus segredos e lá finalmente desaparecerei

para nunca mais ser encontrado

finalmente em paz livre destes

pensamentos que corroem

e nunca deixam de me assombrar