necessário
passei a odiar o tempo
dono das mesmas mãos
que me fizeram aguardar
ansioso
a chegada da alegria
do amor e de sua voz
hoje são apenas os números vermelhos
ao lado de minha cama
em contagem regressiva
uma amante com o rosto marcado
de desprezo e sabedoria
que me odeia
aguardando com sorriso macabro
o momento horroroso no qual
coloco minha coleira
no qual dou
o que nunca recebo
no qual sangro
gota por gota
vagarosamente
a luz de minha alma
no qual o castanho de meus olhos
segundo por segundo
se transforma no cinza
no qual minhas costas se dobram
vértebra por vértebra
para beijar os pés das criaturas indolentes
que nutrem pela vida apenas tudo aquilo
que desprezo
ó pai, por que me abandonastes?
nem o sono dos pecadores possuo
nem o esquecimento dos dementes me visita
a solidão
entretanto
com suas milhares de agulhas a mim se prende
como se eu fosse diamante na lama
me espeta e vagarosamente o vermelho se espalha
aqui, é preciso que seja belo
aqui, é preciso que seja claro
aqui, é preciso que seja inteligente
aqui, é preciso que eu vos diga
ainda que estúpidos pensem que divago
formulo palavras para ninguém
registro momentos que nunca serão vistos
e está tudo bem
afinal, tenho um plano
logo todos saberão
para este não haverá explicação
o resultado será sua própria resposta
e se ainda houver dúvida
pergunte à minha amante
já sabem onde se encontra
e com ela
encontra-se todas as respostas