necessário

passei a odiar o tempo

dono das mesmas mãos

que me fizeram aguardar

ansioso

a chegada da alegria

do amor e de sua voz

hoje são apenas os números vermelhos

ao lado de minha cama

em contagem regressiva

uma amante com o rosto marcado

de desprezo e sabedoria

que me odeia

aguardando com sorriso macabro

o momento horroroso no qual

coloco minha coleira

no qual dou

o que nunca recebo

no qual sangro

gota por gota

vagarosamente

a luz de minha alma

no qual o castanho de meus olhos

segundo por segundo

se transforma no cinza

no qual minhas costas se dobram

vértebra por vértebra

para beijar os pés das criaturas indolentes

que nutrem pela vida apenas tudo aquilo

que desprezo

ó pai, por que me abandonastes?

nem o sono dos pecadores possuo

nem o esquecimento dos dementes me visita

a solidão

entretanto

com suas milhares de agulhas a mim se prende

como se eu fosse diamante na lama

me espeta e vagarosamente o vermelho se espalha

aqui, é preciso que seja belo

aqui, é preciso que seja claro

aqui, é preciso que seja inteligente

aqui, é preciso que eu vos diga

ainda que estúpidos pensem que divago

formulo palavras para ninguém

registro momentos que nunca serão vistos

e está tudo bem

afinal, tenho um plano

logo todos saberão

para este não haverá explicação

o resultado será sua própria resposta

e se ainda houver dúvida

pergunte à minha amante

já sabem onde se encontra

e com ela

encontra-se todas as respostas

Fernando Domith
Enviado por Fernando Domith em 05/01/2025
Reeditado em 16/03/2025
Código do texto: T8234211
Classificação de conteúdo: seguro