INDÍCIOS
Há indícios do tempo que fica e passa
Em toda parte, em todos os cantos
E no canto ao luar
Ainda que se estilhace em ínfimas frações volantes
Em espectral vontade de permanência...
Pairando sobre a face do infinito
Como um ser suicida sempre pronto para cair
E ressurgir do abismo metamorfose louca e nua
Disposto a andar sem se cobrir,
A beijar e até ferir a boca da pessoa amada
Que, no caos, sorri...
Passa em torno da alma desavisada assoviando com sonhos da eternidade,
Mas vinca o corpo suas cicatrizes expostas em pele árida e crua
Sobre o esqueleto encarnado de desejo e vida.
Pulsa no ventre da flor que desabrocha a primavera
Prometendo frutos doces
Como se a vida fosse um eterno banquete
A quem sempre tem fome demais
E come bem menos.
É um vento, uma memória, um esquecimento
Uma música de Djavan, uma rosa no deserto
Espumosas ondas salgadas que vão e vêm,
Um pingo de chuva na vidraça banhada de sol
Algo longe e perto que a mão sequer alcança e detém.
O tempo é você que me percebe sem me precisar
E me toca sem me sentir, busca sem me achar,
E me encontra sem querer no sigilo do ser
E me permite passar e voltar quantas vezes querer
Só para poder olhar seus indícios no ar...
By Nina Costa, Mimoso do Sul Espírito Santo Brasil, in 08/12/2024.
N.A.: No penúltimo verso, escrevi o verbo "querer" no infinitivo, quando gramaticalmente deveria ser no futuro do subjuntivo "quiser". Fiz isso, intencionalmente, usando de licença poética. Como diria Jânio Quadros "fi-lo porque qui-lo".
Mas ao ser interpelada pelo grande amigo e poeta conterrâneo, Roberto Vasco Gonçalves, decidi fazer esse adendo.
Bjsss!
Nina Costa