Os Loucos

I

Era como sol de primavera,

Um passo à frente determinado,

Já cansado do labor o povo,

No vilarejo sorria a esperança,

Muitas vezes quebrada, desviada,

Pela crueldade do espírito.

À noite, o descanso merecido,

Era na vila um silencio assaz,

Enquanto a escuridão descia,

A poca luz das casas morriam,

Uma a uma quando a noite crescia,

E o silêncio reinava em paz,

Ao mesmo tempo todos dormiam,

A vila isolada descansava.

II

Certo dia, a luz do dia não surgiu,

O tempo estava carregado,

As nuvens não andavam pelo céu,

Parado o vento, parava a vida,

O canto das aves exauriu,

O ar pesado e denso aquecia,

A gente, fora de casa, olhava,

Nada entendia, muito estranho,

Ninguém saia para o trabalho,

Alguns se reuniam, conversavam,

Falavam esperando o que vinha.

— Vem muita água para a lavoura,

Algum entusiasta dizia,

Esperando do tempo o melhor.

III

— Logo virá da terra um tremor!

É o grito de um ser desesperado,

E sai correndo como um louco,

Ele vai gritando e sumindo,

E ninguém dali lhe dá ouvidos,

O eco de sua voz desaparece.

Logo, na direção oposta a sua,

Um novo grito a todos espanta:

—Vem aí do céu grande tempestade!

E ele corre esbravejando,

E todos vão rindo da loucura,

E ele, em disparada, vai sumindo,

E o grito do seu clamor, em vão,

Na descrença desaparecendo.

IV

Enquanto todos juntos observam,

O tempo vai mudando de cor,

E a vida se arrastando, vivendo,

Do que tem a terra a oferecer,

Sem perceberem que a loucura,

Pode ser sinal de lucidez.

O tempo tomando cor de chumbo,

E o calor úmido aumentando.

Todos pensam continuar vivendo,

Da ilusão que tem a sensatez,

Da crença cega no racional,

E que o mal é fruto da loucura,

E que o louco procura ser,

Emissário e previsor do mal.

V

As nuvens acumuladas caem,

O dia se torna negro espantalho,

Descendo o teto ao alcance da mão,

O povo assustado se dá conta,

Do louco que correu da ocasião.

Um clarão unindo o céu e a terra,

Recolhendo as almas perdidas,

Em sua lucidez, agora dúvida,

Pois sacode a terra um tremor,

E da montanha ecoa um tropel,

De verdes árvores deslizando,

Deixando uma fenda no verde,

Uma dor prevista ao coração,

Como se o mal todo de uma vez,

Caísse sobre a certa confiança,

Que da loucura, nem causa fez.

VI

Os sobreviventes se acumulam,

Sem entender tanta destruição,

Começam os trabalhos de busca,

Alguns de joelhos buscam a Deus.

Casas destruídas, um chão de lama,

Enquanto corpos vão aparecendo,

Cresce em todos a desolação,

— A natureza tem suas razões.

Um grito rompe o desespero.

— Eu sabia, eu sabia, eu sabia...

Todos, sem entender, abismados,

Quando surpreende um novo grito,

Vindo a todo peito do outro lado.

— Eu avisei, eu avisei, eu avisei...

JarbasTaboza
Enviado por JarbasTaboza em 02/11/2024
Código do texto: T8187810
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