O SO(M)HO
Quero um som que entremeie na caixa,
Daqueles que saltam das cordas e saem por aí,
A tocar o outro sem pedir licença,
E que faça chorar.
Que marque nos dedos o sabor do sal,
Que não aceite conselhos,
E que saiba do poder que tem,
Quero um som que se faça de inocente.
Mas que arreganhe os dentes e ameace morder,
Quero Rita com a cor do seu rosa choque,
Caetano sem lenço e sem documento,
Djavan com o seu lilás.
E quero, nas ondas verdes do mar de Caymmi, também morrer,
Sem ouvir Buarque gritar:
“Amanhã será um novo dia da mais pura alegria”,
Quero tudo isso ignorar.
E sair de mãos dadas com Pessoa,
Sem me preocupar se é Caieiro, Campos ou próprio Fernando,
Quero me sentar junto a mim,
E sair de mim como num ato místico ou psicótico.
Ver-me ouvir o doce som,
Que traduzo no violão,
Com uma nota só,
(Não é o samba do Tom).
É o deitar das ondas nas grandes pedras,
É esse o som,
Puro e genuíno que busco,
Mas ainda sou aluno da grande orquestra que se chama: CO/RA/CÃO.