Quase me perdi

É fosforescente a ardósia da rua

As nuvens descortinam carinhoso halo

Entorna no mar voluptuosa lua.

Mas da minha janela não a vejo!

Corujas agourentas escutam o que falo,

Enquanto em pensamentos velejo

Cá está minha alma, e precisa da tua!

E agora só te desejo!

Ultrapasso noites e madrugadas no silêncio

Passos atritando cascalhos escuros

Sento-me embaixo da escuridão, ao relento.

Penso encontrar teu seio: paraíso seguro

É triste lançar meus braços sobre a noite

E na entoada escuridão não te alcançar

Rezo a ajuda dos astros companheiros

Para, num segundo que escapa, eu te abraçar!

Ainda deito-me sobre a lua na ardósia

Na calçada onde o mar quase alcança

E a bruma cobre minha face nebulosa

E durmo inquieto com esta perdida esperança!

Penso doido, que quando em aurora acordar,

Tal sentimento terá se inundado

Da janela da minha íris até o mar

E verei a miragem que rompe em desamparo

Verei, pois, a borrada abóbada do céu,

A derramar prestigiosa ilusão em minha face

A fada-mentira que vejo encoberta em véu

Tão real que olhando pra boca em mel

Um momento a mim até falasse!