O mundo Sertão e os capotes que ele nos dá!

O dia alvorece, no que tem de sina alvorecer, em alvoroço tal,

que é como sendo só e absolutamente sol!

Nem uma gota de breu, foi deixado pela noite!

Mas pelo desmedido do cheio da lua que deu luz ao céu,

a noite bem que teve pouco negrume: quase bagas de sem luz!

Era um claro estabanado e branquicento que se fazia de sonso,

mas nem de muito longe alçava ser cabeça-de-vento.

Era noite! ... E que noite quente e espaventada dos infernos!

E no dia alvorecente, por demais alvoroçado e quente,

e as mazelas e os padecimentos e os ranços e os senões

são resguardados por esse alquebrado mundo Sertão

e esquecidos em meios aos afazeres do habituado da vida.

Isso no vem e vai da azáfama que é de castiça labuta!,

isso na lida com as coisas que se alastram no chão duro

e com as peripécias desse sol cáustico e descabido!

O estupor do descambo do sol da aliviado pouco.

Está a se pôr, pongado no destino do fenecer,

acaçapado no findo desses Sertões desmedidos.

Mas dia seguinte será renascente e abrasante;

mais, talvez, do que o que agora está morrediço.

É resiliente tanto quanto resiliente são os viventes

dessas entranhas Sertão: fênix, no pleno do termo.

Tem um vento ciganado que tange os redemoinhos,

mas que em nada promete dar refresco ou alívio.

É seco, talqualmente seco está esse mundo Sertão.

Mas é vento traquino, que passeia solene,

faz mesuras e bafeja como que sendo só brisa;

mas não de todo desmerecido do seu frescor!

Será castigo essa secura desmesurada?,

que se faz como que sendo de feitio vulcânico?,

que se ajeita como que sendo um coivarado?,

que se arrima no cucuruto do céu feito fogueira?,

que se parece como que sendo sol dentro de outro sol...,

mas que é um candente e fatídico dia de plena seca?

Os Sertões penam e padecem do “mal do sol”,

que de tal inclemência semelha fogo e secagem,

com mais seca e muita secura..., até esturricar tudo!

Mesmo as pedras sofrem as agruras e tristuras;

não só os bichos e os pés de pau e o mais de tudo.

Se é gente, sofre em dobrado ou mais que isso,

pois o que não falta é moléstia pra atazanar o juízo!,

como se já não bastasse esse solão desmerecido!

Deus será que não se alembra dos que aqui se cravejam?

Desses que estão encastoados nesse sofrer embrabecido?

Desses que se fazem de fortes e mal se aguentam nos cambitos?

Desses que tem as vidas atormentadas por uma seca afrontosa?

Esses que aqui se arrombam, no seco que de certo lhe serve de castigo?!

Aqui, onde tem mais bicho entocado que esperança a céu aberto,

vertendo a água pouca do corpo no pelejar da brabeza dessa vida?

Nem mais se tem aboios dolentes de vaqueiros engolidos em couros,

galopeando cavalo fogoso, em entalhes taninados: cavaleiro e montaria.

Pra onde se foi esse dueto?, de cavalo e vaqueiro ajuntados num só?

Nem mais boi pra pegar no laço de couro os Sertões ainda guardam!

As aves que aqui avoam, nesses tempo de agora, é tão só urubu!

O mais das outras, ou daqui se foram ou foram sapecadas pelo calorão!

Virou tudo um moqueado só, em paçoca destituída da “vida voadora”.

Um trago acrimonioso, de vida amargosa, que dá travo da goela!

É o viver Sertão, nos seus achaques: homens, bichos, pedras...,

ou estrupício outro que não seja aceso, adusto, esbraseado, escaldante...,

que não seja chama ou vindo da bocarra de um dos infernos mais quente!

O que semelha sim, é que os Sertões está de querer arremedar os infernos!

Isso pela quentura “castigenta”; isso pelo ardente que tem essa quentura.

Mas era pra ser assim?, mesmo depois que tantas mudanças se fez?

Mesmo enfiando a vida-Sertão em surrão de couro de vaca louca

e o enterrando em chão secado em sete palmos de pura bizarria?

Se era mesmo pra ser assim, porque destecer o que era de muito feito?,

e deixar só o que é de encrespado e desditoso e infausto tal e qual o velho dito:

“A seca é entalhada nos Sertões e os Sertões são encarnados na seca!”