Morto Não Dança
Na penumbra da mente, uma chama se lança
Mas o morto não dança, não segue a balança
É livre do fardo, das sombras do dia
Navega sem rumo, em maré fria
Não danço ao compasso da vida insensata
Sou eu, o morto, na noite silente e prata
No palco vazio, onde todos se lançam
Fico imóvel, sereno, enquanto outros se cansam
Sou eco de risos que nunca ecoei
Fantasmas de festas que nunca celebrei
Os outros girando, em roda e ciranda
E eu, parado, na minha demanda
A música toca, mas eu não ouço
O morto não dança, não entra no poço
De normas e regras, de pressões sem fim
Sou apenas eu, fiel a mim
A multidão clama, seus gritos são vãos
Seguem suas trilhas, obedecem às mãos
Mas eu, o morto, não sigo a trama
Minhas escolhas são meu diagrama
Na solidão do ser, encontro a paz
No silêncio profundo, onde o tempo jaz
Não preciso de festas, de aplausos ruidosos
Minha alma se acalma, em passos ociosos
Assim sigo em frente, na minha bonança
Pois o morto não dança, não faz aliança
Prefiro a verdade, a calmaria do não
Do que ser prisioneiro da vã multidão
Sem herança
Sem liderança
Sem esperança
O morto não dança