Palavra
Há correntes
a prender meus versos!
Há correntes
a calar minha voz!
Há correntes
em todos os lados!
Há algemas a prender
as mãos...
braços cruzados...
olhos atônitos...
o nada a enfeitar as paredes...
a luz ao lado,
o livro à mesa,
palavras passando
a me cumprimentar...
O papel a pedir:
—Escreva!
A Gramática começa
a reclamar e eu digo:
—E daí?
E daí se está tudo errado...
que as algemas libertem as mãos!
A quietude do instante
torna-o infindável!
—Que importa se está tudo errado?
correntes, algemas, prisões...
—Que importa, se tudo não é nada?
—Que importa!
—Que importa!
Correntes e luto onde escrevo...
e escrevo, confesso!
E lá está ela: elegante e bela,
a palavra!
A palavra, senhores, é ela!
A palavra magnífica,
resplandecente...
É ela quem enxuga
minha face...
É ela, senhores, sim, é ela!