ANSEIOS DE UMA ALMA

A loucura tingiu em cheio,
O meu senso,
Não sei mais o que penso,
Penso; mas, não creio,
Se creio, é só pelo meio,
Leio o meu cerebelo,
Despenteio o cabelo,
Convenço os meus devaneios,
Anseio sobre os cotovelos,
O lenço enxuga o suor do pesadelo,
Pertenço ao que não veio,
No veio do rio cristalino,
Vejo escorrer o meu tino...
E num reflexo repentino;
Sou o livro de Buzzati na estante,
Deserto – tártaro – angustiante,
Meteoro que no espaço se perdeu,
Sou e êxtase de um instante,
Que é meu – somente meu,
Sou tudo, sou nada,
Verso mudo, conversa fiada,
Alma desdita a passeio...
Numa noite enluarada.