O ÚLTIMO SUSPIRO

Apelidaram-me de vida,

Mas aquilo que chamam de vida, não teria que ser abundante e bondosa?

Não era seu papel mostrar-se voluptuosa com suas cores de arco íris?

Contaram-me mentiras, e eu em minha própria composição errei a letra, errei a nota, desafinei, e toda minha orquestra errou comigo.

Errei tudo quanto tinha pra errar, porque a vida de nada se distancia da morte.

Não há luz sem sombra, nem bem sem o mal, nem choro sem o riso.

Se em tudo há em si mesmo seu ponto de contradição, porventura morrendo voltarei a viver?

Chorando voltarei a sorrir?

Odiando voltarei a amar?

Pairando sobre a relva daninha, voltarei a correr?

Percorro léguas a fio e meus pés sangrando, meu ar rarefeito, meu peito diminuto, para na beira do rio, admirando o trágico, na tentativa de desafiar o grito agonizante da esperança, para ao menos, no último suspiro, acreditar que a vida sendo a morte, a morte também poderá ser a vida.

Meus passos controversos, minhas pernas estremecidas cambaleiam entre si, eis que já não consigo seguir em linha reta, minha alma, que um dia encontrou a nirvana, agora encontra o repouso dos dias enfadonhos onde contaram-me a história mal contada, do barro que gerou a vida,

do ar que não era o sopro, mas o último suspiro.

E um dia, quando mais tarde me procurar a voz aveludada da esperança, mostrar - lhe -ei em minha face, através do espelho da minha alma, não a dor, não o fim, mas as cicatrizes encravadas, que em noites frias, em noites nostálgicas se abrem e consomem suas próprias dores numa tentativa um tanto insana de na própria morte,

voltar a viver.

Patrícia Leite

Patrícia Leite
Enviado por Patrícia Leite em 18/12/2023
Código do texto: T7956881
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.