A Loja de Penhores
Me dissolvestes como um pai
É melhor do que dissuadir cigarras
A não me encontrarem mais
Meu corpo não as suporta
Venha, apoie-se nessas amenidades
Nesse castelo de plástico descartado
Confessa o nome imortal
Que sempre te faz esmorecer
As vozes se entrecortam
Todas as vezes que encontram meu corpo
Como um mapa do ódio cada uma delas
Escolhe sua capital a partir dos meus membros
Um cinema expondo todos os fardos que travei
Todas as belezas que envenenei de olhos abertos
Todos os momentos que perdi bancando um rival
Todas as vezes que me mascarei entre viúvas
Algum dia pintarei meu rosto de um azul púrpura
Com as minhas próprias mãos
E o resto do meu corpo eu guardo a você
Que possa o amanhece em vermelho sangue pisado
Eu não tenho mais discernimento
O que é atributo? Qual paixão da vez?
O que faz o pudor um deus tão infame?
Quando se interdita a satisfação?
Os deveres do mundo memorizam tragédias
E agora querem o inferno na palma da mão
Por tédio nefasto, por fetiche cordial
Vislumbrar a fragilidade humana a distâncias seguras
Sou ator, sou teatro, sou médium
Eu incorporo vaidades em mim
Sou pacto, sou mentira, sou intermédio
Para que alguém queira me habitar