Qual a dosagem recomendada para eu ser eu?
Eu sou a dor
O amor e a indiferença
A ausência total de crença
Na turbulência em direção a queda
Eu sou a mensagem
Encriptada em palavras sagradas
Onde o divino e o profano é banido
Quando o além é resultado de comprimidos
Eu sou a verdade
A vaidade de assumir responsabilidade
Em afirmar quem é ou não escolhido
O vulto de chapéu é a razão de eu ter falecido
Eu sou a vulgaridade
Libidinosa e tentadora
Ovelhas convidadas ao meu abate
As mesmas me dão de sua carne, não que me importe
Sou o medo de não superar a loucura
Convencendo com suaves palavras a manter revivido
O desejo de que além da minha arquetipada vontade
Não exista um mundo maior que tenho reprimido
Quantas pessoas são necessárias
Para transformar em dogma uma série de loucuras?
Em pequenos pedaços de crença, crio remendos
Não quero encarar o mundo ao meu redor
Não há vencedores ou perdedores
Não creio nem que existam instruídos
A nossa pequenina e frágil bolha de conhecimento
Pouco significa quando notamos o vazio
Não há verdade,
Não sou quem eu sou
Sou o ego reafirmando antigas crenças
E o desejo interrompido pelo paradoxo
Preciso que outros me guiem
Mas não aceito que me coloquem uma coleira
Enforco-me vestido de desculpas
E respiro aliviado quando sinto ressoar meu desejo
Desde que eu possa acreditar
Milagres, convenhamos, convenientes em contexto
Descreverão o eu através de suas irrefutáveis palavras
Leve-me para o altar e me deixe acender incensos
Não há nada que você não pode proporcionar
Como pequenas doses esporádicas de falso amor
E uma comunidade cuja inteligência peca no ponto mútuo
De todos projetarem em migalhas suas virtudes
Sou apenas eu, sou todos vocês
Sou mais, menos, e nada talvez
Sou palavras, tão bem articuladas
Que você não nota
Eu poderia ser você