ANÁTEMA
Dias sem porquê, flores sem túmulo
diálogo do álcool, tumulto do acúmulo,
protelo enquanto fumo, penso quando durmo
cada sonho desesperado morrendo,
a noite amanhecendo sem rumo,
distante da concretude, o vazio de tudo
vivendo em mim o terror abstruso,
a vida intrusa escorrendo no tempo
que perco sem forma, o estudo absoluto
do meu desprendimento, o edifício
que não construo, meu desmerecimento
no junco, monumento em decíduo,
a gradação em desuso, o artifício
que reduz a arte em desperdício
e seduz, sem aviso, o descaso,
meu despreparo ao concurso público,
o tato com este verso imundo
que eu faço inteirado do esquecimento,
todo poeta no mundo precisa morrer!