Maníaca Depressão

Quando a mente perde a razão,

O corpo mergulha na escuridão,

O abismo parece um paraíso

Diante da vara fustigadora do juízo

A consciência deseja morrer

Ao passo que o medo o faz ficar vivo

Sentindo suas entranhas padecer

Preso em um transe de ódio lascivo

Renegado pela mãe liberdade,

A ira inata é sua única verdade

A cada dia, cavo minha danação,

Iludindo-me na busca por salvação

Cara manchada de vergonha e fracasso,

Ostento escondida na minha solidão,

Para que não se ria de mim cada devasso

Sedento por minha queda, minha humilhação

Ninguém a não ser eu,

Sorverá minha própria dor,

Já que ninguém se atreveu

A carregar tamanho rancor

Não ligo para o que dizem os antepassados,

Nem os presentem que me julgam

Os piores, dentre os despeitados,

São aqueles que fingem que se preocupam

Não preciso ostentar falsa modéstia,

Se, na face, está estampada minha moléstia

Nem preciso esconder de ninguém meu choro

Arte viva de onde vem meu socorro

No antro do caos e da maldade,

É cômico exigirem que eu prove bondade

Todos vestidos de santos, maior heresia,

Não há, do que essa, dita hipocrisia

Pronunciando o nome da justiça,

Vocês ofendem a tudo o que é justo

Insistem nessa mentira, a todo o custo

Sob o véu da falsa premissa

Podia eu vestir-me de apatia

Em vez disso, prefiro despir minha ira

Queria reagir, mas estou sem reação

Presa no labirinto da maníaca depressão