Poesia do Abismo

Não derramem lágrimas,

Debruçados sobre meus ossos,

Poupem suas lástimas,

Deixem a chuva levar meus destroços

Não mais temo tanto morrer,

Se junto com a vida,

Também termina o sofrer

De uma existência comprimida

Tendo que sorrir para não chorar,

Sentir toda a dor, sem nunca me queixar

Uma bendita lágrima, antes de me deitar

É todo o legado que, aqui, irei deixar

Por que ser falsa,

Esconder minha indignação,

Se o alheio ganido soa feito valsa

Para almas perdidas na escuridão?

A sinfonia maldita,

Entoando o sadismo,

Que nesse mundo habita,

É viva fúria, poesia do abismo

Soa por cada vértebra do meu corpo

Ecoando por cada janela

Desse espírito frágil e quase morto

E toda essa crueldade, deixando tão bela

Uma beleza que tão fácil não se explica

Nesse mundo é praga que se replica

Tornando até inocente o disparate

De chamar tamanha loucura de arte