Pensamentos à noite
Mais um dia a minguar,
Apenas fecho meus olhos, sem me queixar
O sol se recolhe em sua modéstia,
Enquanto os grilos cantam minha moléstia
A escuridão, sobre a terra, vem pairando
Abrindo caminho para a noite que vem chegando
Com a noite, muitas coisas também vêm
Pensamentos, sentimentos, e outros mistérios do além
Afaga, apaga o dia que passou
Alivia, resfria a dor que ficou
Minha alma inquieta se debate em meu corpo
O silêncio é, para a mente, um estorvo,
Feito a lâmina que flagela a arte
E o fogo que, na pele, arde
Fiéis declamam, em preces, seus pedidos
Insanos a verem elefantes coloridos
Tudo, o gigante universo
Com o amargo da língua, verso
Meus olhos de insônia nunca repousam
Remorsos, em meu travesseiro, pousam
Feito abutres ansiosos por minha carcaça
Por meu canto funesto, ode à desgraça
Eis que assim fui criada
Essa é minha natureza forjada
Na ponta da língua está minha amargura
Uma pitada de veneno e outra de loucura
A noite está a clamar
A mente pesada põe-se a versar
Feito um corpo inquieto a bailar
Sem nenhuma música para dançar
A noite tem pressa,
Pois a inspiração passa bem depressa
As mãos furiosas mancham o papel
Feito as estrelas violando o escuro do céu
Registram as peripécias ditadas pela mente
Dando à luz a palavra, repentinamente
E assim pensamentos criam vida,
Contam, remontam a história vivida
Pelas janelas da alma se propagam
E de lábios em lábios vagam,
Por onde cães inquietos louvam a lua
E quando menos se percebe, invadem a rua