Transe de Ódio
Um transe de ódio me embriaga a mente
Sufoca-me o peito
Feito o abraço da serpente
Abala a razão, como gelo liquefeito
Almas penadas expurgam seu carma
Seus gritos ecoam de dentro do meu estômago
O pecado, nesse corpo, encarna
Chamas dançantes emergem do meu esôfago
A dor quase me faz retroceder
Mas a ira é tanta, que não consigo suportar
Por mais que a consciência faça me arrepender
Esse ódio acabará por me matar
A cólera nunca me deixa sossegar
A insônia põe a mente desperta, neurótica
Cada dia em vão, a morte a me afagar
O maior alento da minha vida caótica
O veneno em meus olhos, sinto-me cegar
O rancor em meu peito, minha boca a cantar
A tristeza da alma, o corpo a pagar
As trevas da mente, o fogo a levantar
Arde, escurece a vida, não é de se espantar
Aqui estou versando meu pecado
Meu espírito imóvel, parado no tempo
Nesse transe de ódio, congelado
Por alguma razão que nem eu entendo
Enterrada viva, presa ao passado,
Não adianta orar por mim
Enquanto estiver aqui, nunca irei descansar
Meu amigo levanta contra mim seu calcanhar
Lobos famintos põem-se a espreitar
Meu suplício, meu calvário, meu triste fim