Flores

De que me adianta ter gente

que me joga flores

se nem ao menos posso ver as cores

além da escuridão latente?

De que me adiantam flores

se não sinto os odores

nada ouço além de vozes doces

que somem além da escuridão

e mãos que se fecham na minha solidão?

Não se cansam de cair as flores

queda inútil, à lama levará

assim como eu, o que cair, apodrecerá

o fracasso exibe sua imagem e seus horrores

Malditas sejam as flores

a perturbar-me a razão

zombando da minha condição,

adoçando com dó meus dissabores

Afundem todas as flores

e não me venham com piedade

nem memória, nem saudade

nem feridas ou vãos amores

Deixem-me só, as flores

só, com migalhas de pensamentos

abortados sentimentos

queridas e inúteis dores

que na carne me fazem humana,

ferem a criatura desumana

Cresce da fúria do abandono,

junto ao olho e seu escuro adorno,

meu ódio, minha força que ascenderá

Não flores,

mas a vida que deu a elas as cores,

me vingará