FESTA NO CEMITÉRIO - VIVO NÃO ENTRA (Republicação)

 

A lua grande clareia

Toda área do cemitério

Pura magia, não é mistério

Nenhum sangue na veia

 

Aqui existe imaginação

Não somos obsoletos

A dança dos esqueletos

Vai mexer com sua emoção

 

Hoje vai ter uma festa

Mas vivo não pode entrar

Coisa assim não vai encontrar

Ficar lendo isso lhe resta

 

A lua cheia é nossa companheira

Os mortos deixarão suas covas

Velhas carcaças e também novas

Vão animar a nossa brincadeira

 

Parece mentira o que digo

Das tumbas saírem os ossos

Também temos direitos nossos

Pode dizer que é um castigo

 

Mas é uma fantasia somente

Não queiram nos contestar

Repito: vivo não pode entrar

É festa somente prá gente

 

Gente a gente não é mais

Somos apenas ossos esquecidos

Como vocês já fomos parecidos

Não teremos carne jamais

 

Daqueles que já foram gente

Nós temos uma pena danada

Pensam que nessa jornada

Imaginam ficar para semente

 

Mas vamos falar da festa

Que estamos organizando

O fogo fátuo brilhando

Vai ter uma grande seresta

 

Os brancos ossos tilintando

Uns aos outros agarrados

Todos alegres, despreocupados

O frescor da noite nos saudando

 

Depois da algazarra terminar

Cada um prá sua cova seguindo

Sem ninguém prá ficar sorrindo

O silêncio agora vai predominar

 

 

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 15/04/2023
Reeditado em 15/04/2023
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