Apareceram luzes incandescentes,
No alto do morro, atrás da capela,
Brilhavam numa noite de repente,
Clarões faiscantes riscavam janela,
A população aturdida e descrente,
Com tamanha labaredas amarelas,
Subindo e descendo em serpente,
Só vistos em filmes quiçá, novelas.
Logo surgiram alguns entendidos,
Pregando Apocalipse... Fim da era,
Sodoma e Gomorra e tempos idos,
Castigo de Deus à geração Nutella,
Os sete pecados sendo destruídos,
Só salvaria quem tivesse uma vela,
Acesa, joelhos prostrados, ungidos,
As profecias bíblicas ditas por Ela.
Chamaram o Corpo de Bombeiro,
A polícia, o padre, o místico pajé...
Um comerciante fanfarrão ligeiro,
Armou uma tenda venda de café,
Foi a imprensa do mundo inteiro,
Noticiário correu igual busca-pé,
Um grito naquele lume fogueteiro:
“Fim do mundo, salve quem puder!”
E em meio o nefrálgico rebuliço,
Tudo se encaminhando pra o fim,
Eis que surge um garoto mestiço,
Titubeando frases em mandarim,
As autoridades vendo o ocorrido,
Esconderam-se no arbusto capim,
Nada mais aconteceu do que isso:
Pirotecnia milenar d’um velho chin.