Apareceram luzes incandescentes,

No alto do morro, atrás da capela,

Brilhavam numa noite de repente,

Clarões faiscantes riscavam janela,

A população aturdida e descrente,

Com tamanha labaredas amarelas,

Subindo e descendo em serpente,

Só vistos em filmes quiçá, novelas.

 

 

Logo surgiram alguns entendidos,

Pregando Apocalipse... Fim da era,

Sodoma e Gomorra e tempos idos,

Castigo de Deus à geração Nutella,

Os sete pecados sendo destruídos,

Só salvaria quem tivesse uma vela,

Acesa, joelhos prostrados, ungidos,

As profecias bíblicas ditas por Ela.

 

Chamaram o Corpo de Bombeiro,

A polícia, o padre, o místico pajé...

Um comerciante fanfarrão ligeiro,

Armou uma tenda venda de café,

Foi a imprensa do mundo inteiro,

Noticiário correu igual busca-pé,

Um grito naquele lume fogueteiro:

“Fim do mundo, salve quem puder!”

 

E em meio o nefrálgico rebuliço,

Tudo se encaminhando pra o fim,

Eis que surge um garoto mestiço,

Titubeando frases em mandarim,

As autoridades vendo o ocorrido,

Esconderam-se no arbusto capim,

Nada mais aconteceu do que isso:

Pirotecnia milenar d’um velho chin.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sérgio Russolini
Enviado por Sérgio Russolini em 18/03/2023
Reeditado em 18/03/2023
Código do texto: T7743192
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