Rasgo: um surto
Quero me rasgar
Romper minha pele
Causar frestas em meu ser
Arrebentar minhas vísceras
Desligar meus ligamentos
Estourar minhas veias
Causar rupturas em meus frisos
Interromper o fluxo de meu sangue
Lacerar minhas mãos no vão de cada dedo
Quero quebrar meus ossos
Despedaçar minhas unhas
Esfarrapar minhas fibras musculares
Abrir minha boca até a mandíbula desgrudar-se
Fender cada buraco de meu corpo, cada poro
Dividir cada pedaço que ainda estiver inteiro
Quero me rasgar
Sentir o líquido primordial esvaindo
Dilacerar cada ruptura esfrangalhada
Experimentar cada espasmo desenfreado
Despedaçar-me, grão por grão
E, então, quebrar-me novamente
Encontrando uma fissura
Entrando na ranhura
Rompendo-me de mim
Habitando cada fenda
Sem tempo, com espaço
No rasgo
No entalhe
No buraco
No sulco
Na frincha
Na trinca
Na brecha
Quero me rasgar