Acervo
Cada palavra doada ao público é pouca
Você sabe, eles querem teus hábitos e pele
As suas roupas eles já conhecem as tecelãs
O fascínio esteve em encontrar infâmias
Cada encontro é um Judas novo
Apontando com beijos, sugando com os lábios
Sujos de amônia ou colônia paterna
Toda a tua dor, todo o teu delírio
Desvencilia dos dentes alguns cadáveres
Uma tempestade decomposta em banheiros químicos
Não é suficiente o teu rosto, o teu corpo, a tua casa
Há uma barganha por teu alívio, pelas tuas rezas, pelo teu infortúnio
E você precisa prove-los com zelo
O próprio entreter é uma droga simpática
Adepta de trocar carícias por atenção
E talvez, a comunhão do teu nome cantado por outros
Cada palavra dita, vem com uma corda
Você que decida o que fará com elas
Escolher entre as vestes de Urano e o ombro urbano
Acolher danças das cadeiras a cada trinta segundos
Inventará intervalos para interlocutores
Insistindo em sequestrar meu abismo de cálcio
Para suprimir suas feridas, para sorrir hipocrisias
Tendo a certeza de conciliar-me ao fantasma que se alastra
O usual ao mestre com equívoco
Reconquista a variação de pretendentes
Com a calma de sempre, ou a ilusão esgotada
Entre lirismos que se apresentam tão prolixamente
Meu amor, venha me visitar uma última vez:
Eu estou posto como um acervo de memórias
Fui calibrado com o equilíbrio do prazer e do pranto
Hoje a noite eu sou tua insinuosa casa de penhores