Acervo

Cada palavra doada ao público é pouca

Você sabe, eles querem teus hábitos e pele

As suas roupas eles já conhecem as tecelãs

O fascínio esteve em encontrar infâmias

Cada encontro é um Judas novo

Apontando com beijos, sugando com os lábios

Sujos de amônia ou colônia paterna

Toda a tua dor, todo o teu delírio

Desvencilia dos dentes alguns cadáveres

Uma tempestade decomposta em banheiros químicos

Não é suficiente o teu rosto, o teu corpo, a tua casa

Há uma barganha por teu alívio, pelas tuas rezas, pelo teu infortúnio

E você precisa prove-los com zelo

O próprio entreter é uma droga simpática

Adepta de trocar carícias por atenção

E talvez, a comunhão do teu nome cantado por outros

Cada palavra dita, vem com uma corda

Você que decida o que fará com elas

Escolher entre as vestes de Urano e o ombro urbano

Acolher danças das cadeiras a cada trinta segundos

Inventará intervalos para interlocutores

Insistindo em sequestrar meu abismo de cálcio

Para suprimir suas feridas, para sorrir hipocrisias

Tendo a certeza de conciliar-me ao fantasma que se alastra

O usual ao mestre com equívoco

Reconquista a variação de pretendentes

Com a calma de sempre, ou a ilusão esgotada

Entre lirismos que se apresentam tão prolixamente

Meu amor, venha me visitar uma última vez:

Eu estou posto como um acervo de memórias

Fui calibrado com o equilíbrio do prazer e do pranto

Hoje a noite eu sou tua insinuosa casa de penhores

Pierrot Ruivo
Enviado por Pierrot Ruivo em 15/02/2023
Código do texto: T7719600
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