A IRA DO REI HERODES
Uns três dias, Herodes esperou
Pelo regresso dos reis Magos
A quem, aos três recomendou
Os seus vaticínios malvados…
Queria, como eles, ir adorar
O tal Messias da mudança:
- Ai, se algum deles não voltar,
Será terrível minha vingança!
P´ la Judeia mandou emissários
E a Belém os seus cavaleiros,
Procurar aqueles reis falsários
Que se fizeram hostis sendeiros…
Cumprida que foi a Missão
Para com o divino Menino
Alteraram a inicial convenção
Voltando por outro caminho.
Quando Herodes ouviu a notícia
De imediato se enfureceu,
Frustrado por aquela sevícia
Qu´ o estranho Destino lhe deu:
– Ah, grandes filhos de Belzebu!
Não perdereis pela demora…
Não seja eu Antipas, o “Cru”,
Há-de chegar a vossa hora!
– Não quero que ninguém s´ esqueça
Daquilo que fiz ao Baptista:
Antes de vos cortar a cabeça
Arrancar-vos-ei a luz da vista.
– E nem que venha a Salomé
A deitar água na fervura
O meu maior entretém é
Deliciar-me co´ a desventura!
– Aos Magos, porém, deixai-os ir,
Não irão longe com certeza;
O tal garoto estará a sorrir:
Co´ as suas prendas, eles sem riqueza…
–Vamos agora ao que interessa,
A vingança serve-se fria:
Extermine-se já, e depressa,
As crianças da cercania.
– Por toda a Judeia, de fio a pavio –
Onde estará aquele Pequeno –
Mate-se tudo a sangue-frio
E ficará livre todo terreno!
Herodes, na sua demência
E oportunidade perdidas,
Esqueceu-se qu´ a Providência
Gere todo o Destino das vidas.
Em Belém o Anjo redentor
Avisou, em sonhos, José
Daquele tresloucado terror
E iniciou uma fuga com fé.
Com a ajuda fiel dos pastores
Conduziu a Família, aflito
Por entre boatos e terrores,
Prás boas terras do Egipto.
A ira do rei Herodes passou
E o tempo tudo fez esquecer
Menos as maleitas que herdou
Das quais, cedo, viria a morrer!
Frassino Machado
In “Os Filhos da Esperança”