Não reconheço os corpos na água
Em um lugar qualquer,
Num lago qualquer,
Flutuava uniformemente,
Coisas que pareciam gente.
Não falavam,
Nem nadavam,
Pareciam boiar,
Estou a delirar.
Tampouco piscava,
Sofriam de estática,
Pareciam estar lá,
Até um se virar.
Me assustei,
Logo recuei,
Ele se mexeu,
Eu jurei.
Aos poucos recuava,
Mas meu olhar focava,
Não, não reconheço,
Nenhum dos corpos nesta água.
Não reconheço os corpos na água,
Era o que eu acreditava,
Em meio cabelos e calças,
Havia uma de pontas douradas.
Coincidência imaginei,
Nunca mergulharei,
Jamais acreditei,
Recuar, recuei.
Haviam roupas de formaturas,
Se marcas de torturas,
Não parecia acidente,
Nem notório incidente.
Diversas pessoas,
Rostos e tamanhos,
Sem sangue, sem arranho,
Sobrepostos na lagoa.
Quanto mais observava,
Mais corpos na água pálida,
Não reconheço os corpos na água,
Estava com náusea.
Corpos com rostos sob água,
Outros imersos,
Destinos submersos,
Rostos inexpressivos.
Até que o Sol tentou se por,
Haviam corpos na água, sem odor,
Rostos parados no lago,
Não havia horror.
Um braço com uma pulseira,
Deve ser brincadeira,
Não havia como negar,
Aquele corpo não poderia estar.
Reconheci um corpo na água,
Parei de recuar,
Minha mente queria me avisar,
Meu corpo não quer parar.
Reconheci um corpo na água,
Corpo que não estava lá,
Não lembro de vê-la,
É um mal que se esgueira.
Reconheci meu corpo na água,
Meu rosto paralítico acima da superfície,
Por uma meninice,
O lago não guarda mágoa.
Se vir,
Não há de ir,
Jure e não reconheça,
Os corpos estão só na sua cabeça.