Não vejo ninguém

Emergindo

Das trevas soníferas

Curvo meu tronco

Lanço minhas pernas

Para fora do colchão

Me ponho a andar

Feito homem

Vou ao banheiro

Abro a torneira

Curvo as mãos

Para guardar água

Lavo meu rosto

Observo o espelho

Não vejo a minha pessoa

Não vejo ninguém

Nem o meu rosto

Meu cabelo

Minhas feições

Meus membros

Meu tronco

Nada

Absolutamente nada

Por outro lado

Consigo ver

Outras pessoas

Vejo meu pai

Minha mãe

Meus irmãos

E irmãs

Vejo amigos

Conhecidos

Até mesmo

Rostos

Que achei ter

Esquecido

Vi meu sonhos

Desejos

Anseios

Medos

Pesadelos

Opiniões

Emoções

Sentimentos

Planos para

O futuro

Arrependimentos

Do passado

E preocupações

Do presente

Mesmo assim

Não consigo ver

Minha própria imagem

Quando estou sozinho

Eu não consigo ver ninguém

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 18/12/2022
Código do texto: T7674940
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