RICO, MILIONÁRIO!!

Fujo da rua, evito a vida

Retrai-se a ação

Alguma prioridade? O passar do tempo

Sem meta, sem regras

Apenas doce desperdício...

As idéias aproveitam-se de mim e rolam

Como um seriado antigo

De um velho canal desativado

Com capítulos repetidos indefinidamente...

Penso que sou poeta

Isso chega a ser até engraçado...

Mas, em verdade, só copio

Plagio da natureza ao vizinho

Da TV, aos filmes, chegando aos livros

Uma mente-xerox do jornal

Que, aliás, pouco consigo reter

Já que, no fundo, nada interessa

Apenas um nojento orgulho intelectual...

De meu, verdadeiramente meu, nada...

A essência coitada, subnutrida

Criança de berço de sujas fraldas

A boca desenvolve palavras inúteis

Pedaços irrecuperáveis de meu ser

É pobre o consolo de saber

Que os outros também nada têm

Embora se sintam ricos... milionários!

Ignorante indigência repleta de riquezas...

Qualquer um pode perceber

Que carrego o alento dos miseráveis

Minha alegria é paripassu com a do gado

Que com manso espírito de manada

Atravessa um rio cheio de crocodilos

Eu sou um boi manso que atravessa

Mas já me foi o rabo, já me foi a pata

Quiçá, na próxima dentada, me irá a alma...

Alimento o mundo pelo buraco do meu peito

Gê Muniz
Enviado por Gê Muniz em 06/12/2007
Reeditado em 10/12/2007
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