RICO, MILIONÁRIO!!
Fujo da rua, evito a vida
Retrai-se a ação
Alguma prioridade? O passar do tempo
Sem meta, sem regras
Apenas doce desperdício...
As idéias aproveitam-se de mim e rolam
Como um seriado antigo
De um velho canal desativado
Com capítulos repetidos indefinidamente...
Penso que sou poeta
Isso chega a ser até engraçado...
Mas, em verdade, só copio
Plagio da natureza ao vizinho
Da TV, aos filmes, chegando aos livros
Uma mente-xerox do jornal
Que, aliás, pouco consigo reter
Já que, no fundo, nada interessa
Apenas um nojento orgulho intelectual...
De meu, verdadeiramente meu, nada...
A essência coitada, subnutrida
Criança de berço de sujas fraldas
A boca desenvolve palavras inúteis
Pedaços irrecuperáveis de meu ser
É pobre o consolo de saber
Que os outros também nada têm
Embora se sintam ricos... milionários!
Ignorante indigência repleta de riquezas...
Qualquer um pode perceber
Que carrego o alento dos miseráveis
Minha alegria é paripassu com a do gado
Que com manso espírito de manada
Atravessa um rio cheio de crocodilos
Eu sou um boi manso que atravessa
Mas já me foi o rabo, já me foi a pata
Quiçá, na próxima dentada, me irá a alma...
Alimento o mundo pelo buraco do meu peito