Desabafo
Decido rotineiramente como um programa de computador
Opero insistentemente
Tento ignorar a hostilidade e a dor
Não há ajuda nesse concreto
Seja do asfalto, seja do silício,
E como emprestaram o nome do que nos infecta
Retomo-o neste artifício
Tão mutantes vírus das angústias
Tão angustiantes vírus das maldades
Porque boicotas os meus planos?
Que largura obténs no teu abstrato existir
Que me atravessas os caminhos que tenho a seguir?
Em qual existência turva me afogas
Se quando me olho nem me reconheço?
Sequer forças para pedir, me resta
Nenhum mísero grão de sanidade existe
Que me evite o círculo centrípeto
a inexoravelmente sugar-me consigo
Forçado a voltar a minha lida
Como quem desfez do que gostava
Como quem sorveu o conteúdo
Do próprio veneno que destilava
Passado o torvelinho tresloucado
Mostrado o que guardava nas entranhas
Prostro-me qual bêbado pernoitado
Deitado na ressaca das façanhas