UM LUGAR QUE NUNCA EXISTIU
Há um lugar onde o dia se veste de noite e do sereno ninguém nunca ouviu falar, só da poeira que acumula em cantos perpendiculares ao se assentar
Há uma hora onde um minuto parece que trava e se revolta com a tentação do desgosto de onde não saiu a marca e a face se omitiu da palavra
Há um pranto que nunca rolou e preso na garganta se jogou de um desfiladeiro secando um rio chamado saudade, onde brasas inflamadas em insanidades mergulham o mais fundo que puderem baixar
Há uma verdade escondida no covil do desespero, disfarçada de culpa, desembocando no mar da infelicidade comprada por nenhum ouro e um falso dinheiro
Há um vento que sopra e recita frações de desejo inteiro, enquanto um poeta prisioneiro liberta suas frases pela metade semeando na terra flores negras que brotam num canteiro de meias e proferidas verdades
Há um canto que nunca foi entoado, um lugar onde ninguém pôs os pés e os mapas nunca apontam pra ali, lá onde as bússolas são paridas por relógios depravados
Então esse é o lugar
Em lugar nenhum de existir
E as coisas que ninguém nunca viu são achadas por aqui
Mas são sem complicação
E existem sem nenhuma razão de existir
Apenas são
De onde se esperava que não saísse nada
Não saiu coisa nenhuma
E a existência é autossuficiente
E lunática assazmente
22/07/2022
09:26hrs