NO VÃO DA NOITE


Entortei a linha reta,
Extingui o ponto final,
Ignorei o sinal de alerta,
Apossei do espaço sideral.

Deixei a porta aberta,
A loucura entrou; que festival!
Cismei que eu era um poeta,
Acima do bem e do mal.

Fui o alvo da seta,
Desafiei o temporal,
Transformei em seresta,
A mesmice descomunal.

Penetrei pela fresta,
Consertei o palácio central,
Aparei as arestas,
A harmonia foi total.

Vi que a hora era esta;
Abusei do irreal,
Recebi como oferta,
A vida com gosto de sal.

Me encontrei na hora incerta,
A morte me sorriu fatal,
Odiei-a; a alma foi mais esperta,
Ainda tinha um ideal.

Suor frio escorre na testa,
Já é quase matinal,
Entre a mulher e a coberta,
Acordo do sonho afinal.