A VISÃO 13 💠
Vi coisas rondando pela cidade
Por onde andavam largavam
rastros imundos sem veracidade
Largavam os rastros e as coisas que vinham atrás logo os pegavam
Em cíclico desespero
De modo que os da frente ao procurar não achavam mais rastros
Nem identidade
Talvez me mostrassem em signos:
"Aquieta"
"Pára"
"Não andes nem corra"
Mas a vista era grotesca
Os rastros perdidos e achados
Me intrigavam
Sob a lama da estrada
No clamor da cidade
Escorriam
Sem medo
Pois outros os achavam
E eu vendo aquela cena
Des-via
Pouco me importava
Vi pensamentos rodando no ar
Soltos redemoinhos
Bailando em um tufão de vaidades
E vi alguns pensamentos domados tornarem-se irriquietos
Começando a pensar
Podia ver a fumaça cinza saindo-lhe pela têmporas
E o ciclone os espalhava
Tal como sementes ao sabor do vento
Eles germinavam
E se faziam de mais e mais pensamentos
Meu Deus!
Já não se dava conta de contar
Miríades e torrentes de pensamentos
Mas ao mesmo tempo eram um
E o gosto de poeira veio à minha boca
Cheiro de chuva
Metal na língua
Linguagem tosca
O pensamento chovia
E me trazia o mel à boca
Sorria
Vi dois animais brigando
Luta insana
Ninguém ganhava
Ninguém perdia
A garra rasgava o céu acima das nuvens escuras
E o que mais me movia:
Era algo estranho
Nenhum matava
Nenhum morria
Era algo catastrófico
Porém em belíssima coreografia
Se contorciam
Em um balé hediondo
Em que só os dois dançavam
E assim se entendiam
E o bater das garras produziam eco
Quando tudo parecia que ia acabar
Que ia parar
O eco reaparecia
E a dança horripilante desencadeava novamente num instante
Em descomunal giro recalcitrante
E as feras debilitadas recomeçavam a lutar
Em súbita e desenfreada megalopsia
Rosnavam e se debatiam pulando pelo ar carregado
Em infinito trotar
E nessa visão a dupla eu via
Vi também um jogo
Enigmas brotavam em cada ponta da geometria intrínseca e radiante
Como histórias perdidas de uma nação beligerante
Pairavam os enigmas no limbo l
gerando equações equidistantes
Tanto mais se jogava
mais os enigmas se embaralhavam
e causavam sínteses entre si
Ficavam roxos
Azuis provocantes
Vermelhos incendiantes
E expandiram o limbo
em multicores após si
Logo após as apostas encerravam e eles se acalmavam
Parece que esperavam um complicado resultado e logo após isso se dispersavam
Gastando longo tempo até atingir um branco,
Depois o cinza
Por fim o negro
Estado de resposta satisfatória e acertada em um jogo de mil perguntas e resultados de enredos
Logo após isso os enigmas se enclausuravam em esferas de obsidianas
e já não se comunicavam mais entre si
Apenas hibernavam em longo e arquitetado cálculo aritmético
Flutuando sobre um limbo plasmático
Ora monocromático
Ora iluminado
Ora obscuro
Até começar a jogatina de novo
Aí renasciam
Vi um coração de homem encarcerado numa jaula de quartzo
Já não pulsava nem batia
Já não tinha sangue nas artérias
Já não sentia
Já não era nada mais do que um coração parado de homem
E vi seus tempos passados
Vi sentimentos afogados e angústias represadas nas paredes desse coração
E sua história era ontem
Era hoje
Era futuro e era então
E vi que em esquecimento deixaram esse coração preso para que se curasse
Mas muito tempo passou
E as batidas nunca voltaram
Então olharam esse coração e viram que era tempo perdido acreditar na cura
O julgaram como cruel imutável
E em coração pétreo e inquebrável domaram o que restava de aflição
Mas ao invés de liberdade
sentenciaram-no a continuar no cárcere
Preso em um tempo inominável
A observar seu lago de revolta e repreensão
A cura não veio
A solidão sim
Eu via esse coração sofrer
Mas eu via sem ver
E fingia que não
Eu via uma vida toda se contorcer num ímpeto
Força de caos e desorganização
Tentava rebuscar em um labirinto de medo como sair das paredes daquela prisão
A chave pra poder achar o centro
E assim poder se livrar das paredes de concreto que a prendiam lá dentro
Mas a vida é frágil feito bolha de sabão
E sua duração não é de maior tempo
Então ela corria contra seu maior inimigo de modo a cumprir sua missão
Mas frágil vida
Débil e instável
Um sopro
Um estado de graça Interminável
Feito fumaça que se esbafora ao vento
Mal começa e é cortada pela foice da eternidade
Ao invés de buscar a vontade deveria ter se concentrado, não na chave, mas em como fazer um contrato de eterna vitalidade
Agora o vento assobia sua rápida canção de poucos compassos e a vida escuta
Mas já é tarde
Num último fôlego tenta romper a eternidade
Mas ao invés de agarrar à existência
Desfaz-se sua mão no espaço em brilhante e tênue poeira de matéria em densidade
As tentativas
Ganhos e fracassos
Seus brilhos de casa de barro
Bem pintada e revestida
Se despedaçaram
Agora não é mais a Tão-mais-vida
E apenas tentativas frustradas de sonhos que se acabaram
Adeus!
Good-bye!
Até a próxima vida
Até o momento eternal!
Aqui as riquezas ocultas são enterradas e o ouro enferruja como ferro na terra
O que era pó volte ao pó
E o que já foi e não é mais
Já era!
Entorpecido pelas visões
Caio com rosto em terra
Desmaiado
Anestesiado e desfalecido
Já não vale a pena saber se o que vi é presente ou passado
Ou se ainda está por vir
Se a vontade de possuir deve ser contida
Ou se o sonho deve ser alcançado
Mas não cabe a mim ser visionário enquanto contemplo mortificado nessa razão que nunca soube existir
Agora deixo o mundo ruir
Deixo o meteoro atravessar a crosta
e revelar em escombros
o magma derretido e queimado
Pois não cabe a mim decidir se vejo ou se sou enganado
Mas a visão é pra agora
No futuro imprevisto ou de glória em passado
Então na veracidade do que me foi mostrado
Não me resta fugir nem ficar parado
Apenas gritar extasiado
Quando tudo explodir e se desintegrar
Ficarei a ver os pedaços esfacelados vagando sem destino pelo vácuo dos séculos e séculos sem fim.
07/06/2022
16:16