TEMPO XX
O tempo chega, passa, arrasta,
Flui sobremaneira
Escorre pelos ponteiros no carrilhão da sala
E envolve a todos no visco do limbo.
O tempo deixa pra trás.
O tempo leva consigo.
Mas já não há mais tempo a perder e nem a ganhar.
"Não deixe o tempo passar!"
Mas é inútil.
Qual camundongo preso em cola-rato
Homens impregnados
colados
Destinos presos
Destinos atrofiados e fundidos
Estes tais homens roedores não se cansam de ficarem estáticos
estagnados
criando lodo
criando asco.
Mordiscam o queijo na ratoeira.
O tempo é prisioneiro
politicamente incorreto.
Discreto e sincero.
Rolo-pressor de sonhos
insseminador de desgostos
vigário dos culpados e inocentes
e causa mais afrontas
que presente indesejado.
Réplica do que foi e não é mais
Cópia do que sempre foi e será
Retrato do que não é e já foi.
Assim é o tempo-rei de asas colossais.
Asas do tamanho do mundo
emplumadas de espinhos e punhais.
Traspassam sonhos de homens
e deixa fincados em instantes
cabeças e corpos empalados
resquícios em pedaços
de homens petrificados.
Não se espante se cair da carruagem.
Não trema se perceber,
que em sombria viagem
o tempo há de fazer perecer.
O tempo passa devagar
mas a todos o seu preço há de cobrar
Preço de sangue
da não existência
preço mais rápido que um raio
preço de presciência
prescrito na receita pelo doutor tempo.
Seu remédio não há de o curar
e sim de o envenenar.
Então não se engane
ó imortal farrapo de tempo-homem
com o tempo não se brinca
ao erguer-se a cabeça
vê-se claramente as cordas
pendendo da eternidade.
Achas que comandas?
Achas que és senhor do tempo?
Encontra-te vassalo,
dominado e colonizado
marionete risonha
escravo agrilhoado.
O tempo não para
O tempo dispara.
Escorpião peçonhento.
Encerra-se o último ato com uma ferroada:
o aguilhão do tempo!
E de boca escancarada
há de tragar em contento.
11/05/2022
10:45hrs