Duvidosa inspiração
Não me agraciou com o traquejo deste planeta
o bom Deus, me sinto sempre em contramão
Constantemente troco meus pés pelas mãos
Sempre atrasado para ver a cauda do cometa
Maturidade ou idade só me fez mais estranho
Não digo o que sinto e me mantenho calado
Digo, e sou por mim mesmo apunhalado
Antes sozinho que solitário entre o rebanho
Meu agir confunde a todos e a mim mesmo
Tentando ser verdadeiro e também falhei
Um rastro de dores foi tudo que amealhei
Infindas explicações bradadas a esmo
Escrevo e escrevo pois eu não sei falar
Mas só em minha cabeça há o contexto
Ficção, sonhos e dores no mesmo texto
Escrevo e escrevo pois só consigo calar
Meu destino parece ser caos e confusão
E todo ouro que toco se torna em tolo
Todo o mal que fiz não existe consolo
Sentimentos dúbios brotam em profusão
Nem mais meu poema consegue entender
Rimas bonitas e métricas feitas sem nexo
Poema e poeta as vezes são tão desconexos
Luto, apenas luto porque não sei me render
Vivo, afinal tudo evoca a escolha de Sofia
Cada passo que dou deixa um sacrifício
De tanto me queixar já me cansei do ofício
Onde há sentimento não importa filosofia
Termino essa poesia de duvidosa inspiração
Minha alma implora por uma revolução
Que torne o sonho real e não frustração
Termino o poema sem encontrar solução
Para a vida, para mim e para essa laceração
que rasga o peito e faz sangria em meu coração