RUÍDOS DO CÉU

Pela manhã um aborto

E um café para despertar

Vou à labuta, absorto

Pela unidade do lar

Pela manhã um insulto

Solto à mesa do bar

Ecoa por viadutos

Faz meu ouvido rachar

Sapatos e pernas do povo

Pedem almoço e jantar

Homens na idade do lobo

Rezam p’ro sangue baixar

Pela manhã um cochicho

Aperta o nó do pescoço

Põe minha fala no lixo

Troca minh’alma por osso

Pela manhã uma saia

Rebola ao passear

Põe gente da minha laia

Em seu devido lugar

Línguas e dedos do povo

Lambem poeira e manjar

Homens com jeito de lobo

Rogam p’ro tempo parar

O sol me ergue sempre

Na mesma direção

Minha cabeça sopra

Um vento de ilusão

Pela manhã... o silêncio!

Sufoca os ruídos do céu

Gê Muniz
Enviado por Gê Muniz em 21/11/2007
Reeditado em 21/11/2007
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