Pureza misantrópica
Seu sorriso é escaldante
Para você o sol é radiante
Seu espelho reflete amor
Ressentimento é meu odor
Fedendo afastamento
Minha carne é lamento
Para você as pessoas são boas
Sua vida voa nas vertigens atoas
A filantropia é natural ao sujeito
Em mim, a misantropia é respeito
Não por eles, mas por mim
Afastado de todos, viver é o fim
O poço escuro não há beleza
Apodreço sozinho na tristeza
Sua cruz emana impotência
Sua liturgia corrói a paciência
Minha igreja proíbe vis fiéis
Palavra sacra é: seres cruéis
A música acaba, o tímpano
Sangrou, como meu finco
Na terra, sou o espantalho
Reverso, atraio o fracasso
Sua música é reverenda
E meu piano é oferenda
Morte e fatalismo:
Eis meu adágio digníssimo