Pureza misantrópica

Seu sorriso é escaldante

Para você o sol é radiante

Seu espelho reflete amor

Ressentimento é meu odor

Fedendo afastamento

Minha carne é lamento

Para você as pessoas são boas

Sua vida voa nas vertigens atoas

A filantropia é natural ao sujeito

Em mim, a misantropia é respeito

Não por eles, mas por mim

Afastado de todos, viver é o fim

O poço escuro não há beleza

Apodreço sozinho na tristeza

Sua cruz emana impotência

Sua liturgia corrói a paciência

Minha igreja proíbe vis fiéis

Palavra sacra é: seres cruéis

A música acaba, o tímpano

Sangrou, como meu finco

Na terra, sou o espantalho

Reverso, atraio o fracasso

Sua música é reverenda

E meu piano é oferenda

Morte e fatalismo:

Eis meu adágio digníssimo

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 21/02/2022
Código do texto: T7457389
Classificação de conteúdo: seguro