Singularidade onírica
Às vezes, simplesmente
fecho os olhos e parto,
Em meio segundo ou menos,
Como agora, recluso em meu quarto,
Fui à praia, mirei a linha do horizonte,
Lancei-me num imprevisto velejar,
E vi o que cá já não vemos
Todas as oportunidades que perdemos,
Remava o barqueiro adiante,
Não me aflige Caronte,
Nem é bem a morte, tampouco o pleno viver,
Só as infinitas paralelas entre o céu e o mar.
Vaga a mente, nau perfeita,
Num sonho lindo a flutuar,
No mundo em que nada é, mas tudo pode ser,
Já sabemos, não será possível recordar,
os detalhes do oceano infinito que me permite viver.
Aos primeiros raios da fúria solar,
A mente aporta, é a volta, às lembranças reporta...
Abrem-se lentamente os olhos,
A memória se embaça, a ideia ensaia,
Vagamente vaga a mente.
E agora estou aqui pensando em você;
Tanto mais vivos eram teus olhos amendoados,
Quanto mais suavemente estivessem os meus cerrados,
Decerto não dormia, apenas eu via
Aquilo que o desperto não vê.
Considerar o tempo que já se perdeu,
Faz perceber que que sou pai, sou filho,
Sou de tudo, apenas, e infelizmente,
Este não sou bem eu.
Egresso do oceano singular,
Novamente acordado, novamente ancorado,
Impossível velejar,
Despertei pensando no amor que pereceu,
Nas viagens a um tempo que já ocorreu,
Percorri as rotas do destino, do desatino,
De um menino... que cresceu.