Singularidade onírica

Às vezes, simplesmente

fecho os olhos e parto,

Em meio segundo ou menos,

Como agora, recluso em meu quarto,

Fui à praia, mirei a linha do horizonte,

Lancei-me num imprevisto velejar,

E vi o que cá já não vemos

Todas as oportunidades que perdemos,

Remava o barqueiro adiante,

Não me aflige Caronte,

Nem é bem a morte, tampouco o pleno viver,

Só as infinitas paralelas entre o céu e o mar.

Vaga a mente, nau perfeita,

Num sonho lindo a flutuar,

No mundo em que nada é, mas tudo pode ser,

Já sabemos, não será possível recordar,

os detalhes do oceano infinito que me permite viver.

Aos primeiros raios da fúria solar,

A mente aporta, é a volta, às lembranças reporta...

Abrem-se lentamente os olhos,

A memória se embaça, a ideia ensaia,

Vagamente vaga a mente.

E agora estou aqui pensando em você;

Tanto mais vivos eram teus olhos amendoados,

Quanto mais suavemente estivessem os meus cerrados,

Decerto não dormia, apenas eu via

Aquilo que o desperto não vê.

Considerar o tempo que já se perdeu,

Faz perceber que que sou pai, sou filho,

Sou de tudo, apenas, e infelizmente,

Este não sou bem eu.

Egresso do oceano singular,

Novamente acordado, novamente ancorado,

Impossível velejar,

Despertei pensando no amor que pereceu,

Nas viagens a um tempo que já ocorreu,

Percorri as rotas do destino, do desatino,

De um menino... que cresceu.

Weber Palmieri
Enviado por Weber Palmieri em 15/02/2022
Código do texto: T7453030
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