Na minha porta bateu um abalo

Acordei;

Os calcanhares retalhados,

Olhos pesados,

Rosto deslavado.

Na minha janela pousou um pássaro,

Chocalhou um piado,

Abanou o torso,

Foi-se pelo copado.

Na minha porta bateu um abalo,

Que como um tiro apressado,

Me adentrou o dorso,

Desentronizou o marasmo.

No meu quarto,

Só eu,

Fora dele,

O mar;

Que com chuvas fortes,

Faz o vento levar,

De lá para cá,

As magoas ondas de um ímpeto marejo.

Que traz nas marés do pendor;

Um passado;

De morte,

De dor.

Eis,

Do que é feito os frágeis?

Dos críveis servos dos reis,

Dos volúveis bipolares?

Eis,

Vens dos desarrazoáveis,

Dos ineptos incapazes de ver,

De ser,

De ater.

Remo-me da canoa à margem,

E como bom canoeiro declino,

Capoto, dilato, me viro,

Mas subo sem medo,

Sorrindo.

Como bebedouro,

Me largo, me soou,

Me cedo,

Te sedo,

Me doou.

Mas sabe-se lá do ouro,

Fulgente polido,

Vivente dos rios,

Das rochas,

Dos brincos.

Mas sabe-se lá da vida,

Essa sim poluída,

Maltratada,

Despejada,

Bem hórrida.

O desordeiro azombado vental,

Que se desdobra no paredal,

Na masmorra do arco-íris espiral,

Incorpora em minhas horas o delírio,

Desembota um cortante riso,

Vai-se embora,

A zureta,

A morosa,

A muamba,

Amorosa,

Minha airosa,

Ó pobreza.

Dmitry Adramalech
Enviado por Dmitry Adramalech em 18/12/2021
Código do texto: T7409769
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