Na minha porta bateu um abalo
Acordei;
Os calcanhares retalhados,
Olhos pesados,
Rosto deslavado.
Na minha janela pousou um pássaro,
Chocalhou um piado,
Abanou o torso,
Foi-se pelo copado.
Na minha porta bateu um abalo,
Que como um tiro apressado,
Me adentrou o dorso,
Desentronizou o marasmo.
No meu quarto,
Só eu,
Fora dele,
O mar;
Que com chuvas fortes,
Faz o vento levar,
De lá para cá,
As magoas ondas de um ímpeto marejo.
Que traz nas marés do pendor;
Um passado;
De morte,
De dor.
Eis,
Do que é feito os frágeis?
Dos críveis servos dos reis,
Dos volúveis bipolares?
Eis,
Vens dos desarrazoáveis,
Dos ineptos incapazes de ver,
De ser,
De ater.
Remo-me da canoa à margem,
E como bom canoeiro declino,
Capoto, dilato, me viro,
Mas subo sem medo,
Sorrindo.
Como bebedouro,
Me largo, me soou,
Me cedo,
Te sedo,
Me doou.
Mas sabe-se lá do ouro,
Fulgente polido,
Vivente dos rios,
Das rochas,
Dos brincos.
Mas sabe-se lá da vida,
Essa sim poluída,
Maltratada,
Despejada,
Bem hórrida.
O desordeiro azombado vental,
Que se desdobra no paredal,
Na masmorra do arco-íris espiral,
Incorpora em minhas horas o delírio,
Desembota um cortante riso,
Vai-se embora,
A zureta,
A morosa,
A muamba,
Amorosa,
Minha airosa,
Ó pobreza.