Escrutínio da verdade
Pedi à Verdade que me desse uma prova da sua existência.
Ela riu, como quem zombasse da minha inocência. Me disse que ou eu era louca , ou não acreditaria em qualquer prova que ela viesse a me dar, já que eu estava a questionar sua veracidade.
Saiu atrevida batendo a porta como se não tivesse nenhum respeito por mim.
Incrédula, pedi à Loucura que me acompanhasse, achei desaforo da Verdade sair assim sarcástica batendo a porta, numa arrogância que só ela dá conta.
A Loucura veio, toda sedutora, estendeu-me a mão e disse que enquanto eu permitisse me seguraria a mão.
Passamos em frente, e a Verdade ria escandalosamente.
A Loucura apenas me dizia, não liga ela só está feliz, não está rindo de você.
Mas como se não bastasse, a Verdade ousou falar o meu nome e confessou que ria da minha ignorância e ingenuidade.
A Loucura então me lembrou que o que ela tinha de mais precioso era exatamente a ingenuidade e que era por isso que ela parecia sempre tão jovem e tão alegre.
A Verdade, quando se deu conta de que eu não lhe dera bola, petulante se irritou. Começou a gritar um monte de coisas, para mim, sobre o que ela pensava a meu respeito.
A Loucura olhou pra mim e sorriu, disse que se eu não ligasse logo ela cansaria e eu nem me lembraria mais o que foi dito. E completou dizendo:
- A escolha é sua, sempre sua! Dizem que eu sou a doida da história, mas por mim, o mundo viveria em paz. Agora, fica toda essa gente em busca da verdade propagando algazarra e guerra entre os povos. Prefiro dançar com as crianças que brincam no barro e acreditam nas cegonhas.