Estou-me-indo

Tenho pressa nas escolhas das letras

Não estou atrasado

Tenho ainda muito tempo

Mas estou-me-indo

Esses dias dei meu último beijo à freira

Não sei quando darei o próximo

(Espero que seja em boca mais receptiva)

Esses dias encontrei-me com um policialzinho

Praça que de parsa não tinha nada

Me mandava parar sem nem mesmo saber porquê

Chamava de vagabundo tropeçava,cansava nas palavras

Tentando me alcançar. . .

Grito-lhe com a cabeça um pouco a esquerda:

“Não posso parar para trabalhar, o tempo urge

E a essas horas as calçadas estão mais vazias”

Esses dias fui criança, não por muito,

As pernas cresceram rápido demais com a caminhada

Minha mãe desesperada, me levava aos doutores

Me colocavam na esteira, medir pressão era besteira

O coração dava para ver pulsando através da camiseta

Me receitaram apenas muletas

Para as pernas não sofrerem demais

Talvez pelo menos eles se orgulhem delas hoje em dia.

Não tenho planos

O mapa não tem x nenhum

A linha continua – sem começo-----

-------------------- e o fim está onde estou

Se algum dia me ver passando me grite apenas um alô

Mas não me chame para almoçar, porque o tempo urge

Talvez lá, mais a frente daquele amanhã futurístico,

Eu pare para dar-lhe um abraço

André M Carneiro
Enviado por André M Carneiro em 06/09/2021
Reeditado em 06/09/2021
Código do texto: T7336307
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