Estou-me-indo
Tenho pressa nas escolhas das letras
Não estou atrasado
Tenho ainda muito tempo
Mas estou-me-indo
Esses dias dei meu último beijo à freira
Não sei quando darei o próximo
(Espero que seja em boca mais receptiva)
Esses dias encontrei-me com um policialzinho
Praça que de parsa não tinha nada
Me mandava parar sem nem mesmo saber porquê
Chamava de vagabundo tropeçava,cansava nas palavras
Tentando me alcançar. . .
Grito-lhe com a cabeça um pouco a esquerda:
“Não posso parar para trabalhar, o tempo urge
E a essas horas as calçadas estão mais vazias”
Esses dias fui criança, não por muito,
As pernas cresceram rápido demais com a caminhada
Minha mãe desesperada, me levava aos doutores
Me colocavam na esteira, medir pressão era besteira
O coração dava para ver pulsando através da camiseta
Me receitaram apenas muletas
Para as pernas não sofrerem demais
Talvez pelo menos eles se orgulhem delas hoje em dia.
Não tenho planos
O mapa não tem x nenhum
A linha continua – sem começo-----
-------------------- e o fim está onde estou
Se algum dia me ver passando me grite apenas um alô
Mas não me chame para almoçar, porque o tempo urge
Talvez lá, mais a frente daquele amanhã futurístico,
Eu pare para dar-lhe um abraço