O amor mata
Amor, amo-te tanto
Que desejo cortar-te a cabeça e portá-la comigo
Para ver a tua cara em qualquer momento
E afirmo isto com todo o discernimento
Sabes que não estaria a brincar contigo
Nem te quero causar espanto
Mas Amor! eu amo-te tanto
Que por ti matei e voltaria a matar
E em pedaços te quero cortar
Para ter um pouco de ti por todo o lado
Embalsamar-me-ei no teu sangue
Pois perfume já não tens
E deitei-te as entranhas aos cães
A tua carne que exangue
As tuas fibras estaladiças
Queimadas ao lume dos teus dejetos
Farei de ti mil e um objetos
Nada se destrói, tudo se transforma
E se bem que a tua pele ainda é morna
O teu olhar está mais que frio
O que vês nesse vazio?
Consegues me ver, Amor?
Não me respondes...
Talvez porque te cosi a boca
Ou se calhar estás um pouco rouca
Ou se calhar não te apetece falar
Até no sexo estás mais fria
Já nem gemes, já nem tremes
Já não suas
Não te apraz a necrofilia?
Bem, quem diria?
Sempre soube que quem cala consente
E como o teu corpo nada sente
Julguei que não seria inoportuno
Aproveitar este momento noturno
Já que não sou nenhum santo
E amor, se me ouvires,
Eu amo-te tanto.