O amor mata

Amor, amo-te tanto

Que desejo cortar-te a cabeça e portá-la comigo

Para ver a tua cara em qualquer momento

E afirmo isto com todo o discernimento

Sabes que não estaria a brincar contigo

Nem te quero causar espanto

Mas Amor! eu amo-te tanto

Que por ti matei e voltaria a matar

E em pedaços te quero cortar

Para ter um pouco de ti por todo o lado

Embalsamar-me-ei no teu sangue

Pois perfume já não tens

E deitei-te as entranhas aos cães

A tua carne que exangue

As tuas fibras estaladiças

Queimadas ao lume dos teus dejetos

Farei de ti mil e um objetos

Nada se destrói, tudo se transforma

E se bem que a tua pele ainda é morna

O teu olhar está mais que frio

O que vês nesse vazio?

Consegues me ver, Amor?

Não me respondes...

Talvez porque te cosi a boca

Ou se calhar estás um pouco rouca

Ou se calhar não te apetece falar

Até no sexo estás mais fria

Já nem gemes, já nem tremes

Já não suas

Não te apraz a necrofilia?

Bem, quem diria?

Sempre soube que quem cala consente

E como o teu corpo nada sente

Julguei que não seria inoportuno

Aproveitar este momento noturno

Já que não sou nenhum santo

E amor, se me ouvires,

Eu amo-te tanto.

Christophorus Columbus
Enviado por Christophorus Columbus em 19/05/2021
Reeditado em 22/02/2023
Código do texto: T7259499
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