Sou o que sou
Sou o que sou
Murado por ferro
Semeado por trigo
Armado e sem perigo
Preso a terra
Entre pernas e umbigo
Decomposto e corrompido
Como um corpo no jazigo
Sou o que sou
Uso pernas e chicote
Encobertos num véu
De puro e doce mel
Presa à boca
Feroz língua de fel
Solta, a voz de menestrel
Traço sons em tons-pastel
Sou o que sou
Corrente e talismã
Furtada de um lar e
Largada na mesa de um bar
Finjo que sou
Astral e material
Que vivo dormindo
E acordo num sonho real
Sou o que sou
Reticente e volúvel
Saboroso e amargo
Feito um café solúvel
Livre estou
Num demônio angelical
Cruzo o céu de um abismo
Desprezando o bem e o mal