máscara da noite
cai a máscara da noite
sob o silêncio fabricado dos
pássaros
eles não cantam
cai a máscara da noite
e a luz transforma tudo
a rua escura se embriaga de passos
negros
que tontos
não sabem por onde vão
cai a máscara da noite
ainda há pouco o entardecer
sangrava por céu adentro,
mestruava o seu tempo fértil
de incertezas e ilusões
sob a luz do luar
banham-se os amantes envoltos
na eternidade de um só momento
sob o véu da madrugada
o sereno
são gotículas, são orvalhos prévios
de friagem e melancolia dos
que bebem a procura de algo.
os amantes se iludem com as estrelas
e nos seus desenhos mágicos enxergam
sagitário, órion, escorpião,
cruzeiro do sul
e, a mais brilhante
a estrela-dalva
que nos acena
com rumo incerto
num mundo girante
nos mostra a terra,
num planeta-água.
a loucura parece cortejar a malícia,
a aluna parece cortejar o mestre,
a lua parece cortejar o sol distante,
negro por ser ausente,
quente por ser reticente
fantasmas antropófagos
devoram nossas lembranças
destróem nossa inocência
e, acorvadados nos limitamos
a temer o vento, a chuva
e os ladrões.
tudo ensaia o burlesco
lá fora, estamos numa ópera-bufa
e o riso está abafado
nossos personagens sob a
máscara da noite
não se apresentam bem pois
os olhos não podem invejar diretamente,
as bocas não pode desejar apropriamente
corpos nus se tocam e se repelem
num cio demente
permanece o desejo intacto,
contido
nas taças de cristais
nos lençóis onde foram esquecidos
os perfumes,
da cumplicidade da cavalgada sem fim
em busca de um ritmo
que aplaque na alma
a sanha de partir
e de voltar.
sob a máscara da noite
o baile nos revela paixões antigas
perguntamos quem somos,
o que somos,
e nos deparamos com formas
possíveis, histórias risíveis
e saídas infalíveis
para não ficarmos sós...
a solidão que com a máscara da noite,
se torna soturna,
obtusa
não se sabe se abriga a morte
ou apenas
o fim de
mais um dia.