SOL NEGRO
Age em mim um Sol que arde na escuridão
Enxota a própria luz, retém sua emanação
Afasta-se da mãe Terra nas costas d'um abismo
Expele com frieza suas lavas de cinismo
O ar estoura o peito com forma e solidez
O gelo esquenta o corpo na falta de lucidez
Meu reflexo pensa, no espelho nada sinto
Falo a voz dos mudos, ouço sons do Olimpo
Com olhos nada vejo e nunca acredito
Fecho a vista, e creio, dito por não dito
Cego estou forte, é o que imagino
Na ilusão sou fraco, puro desatino
Alta noite, durmo, nada me atrapalha
Em cama de serpentes, em lençóis de navalha
Quando acordo o corpo é um “peso vivo”
Visto-me para o café, morto, rindo e altivo
Eu sou absurdo, dói em mim saber
Que entendo tudo sobre nada entender
Tempo corre inverso, mar toma a cidade
Coração flutua contra a gravidade