SOL NEGRO

Age em mim um Sol que arde na escuridão

Enxota a própria luz, retém sua emanação

Afasta-se da mãe Terra nas costas d'um abismo

Expele com frieza suas lavas de cinismo

O ar estoura o peito com forma e solidez

O gelo esquenta o corpo na falta de lucidez

Meu reflexo pensa, no espelho nada sinto

Falo a voz dos mudos, ouço sons do Olimpo

Com olhos nada vejo e nunca acredito

Fecho a vista, e creio, dito por não dito

Cego estou forte, é o que imagino

Na ilusão sou fraco, puro desatino

Alta noite, durmo, nada me atrapalha

Em cama de serpentes, em lençóis de navalha

Quando acordo o corpo é um “peso vivo”

Visto-me para o café, morto, rindo e altivo

Eu sou absurdo, dói em mim saber

Que entendo tudo sobre nada entender

Tempo corre inverso, mar toma a cidade

Coração flutua contra a gravidade

Gê Muniz
Enviado por Gê Muniz em 03/11/2007
Reeditado em 21/11/2007
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