O eu sol.
Látego sobre mim desabava o sol
Do Recife. Ia o ônibus vazio
E lívido o brumoso mar bravio
Cobria as pedras como um lençol
Era alta como a maré minha agonia
O verão alto e alto o sol sentinela
Viam minha face pela janela
Na mais profunda dissintonia
As ruas pareciam ao avesso
Éramos eu e o sol e o sol derretia
E do dia as cores convertia
Todas num grotesco amarelo espesso
Rua do sol. Parada dos peixes,
Obsidianico o Capibaribe escuro
Parecia pressagiar meu futuro
Contrapondo do amarelo os feixes
II
Ignoro o rio. Atravesso a rua,
Livro-me do sol a sombra dos correios
E invisível me sento em devaneios
No coração pleno da cidade crua
"A um inflamado símbolo femíneo
Vejo agora reduzir-se meu mundo
E Tormentoso o golpe profundo
Flui de seu formato curvilíneo
As especulações da dialética
A sabedoria proverbial de Salomão
E todos os tratados de Platão
Vencidos pela vã beleza estética
D'uma mulher com érebo olhar
Análoga d'alma a selada campa
Que profunda sepultura tampa
Aprisionando sem se importar"
III
Por entre as formações geométricas
Da enorme construção, a me perseguir
(Porque ele insiste'm sempre me extinguir?)
Desceu irado o sol em cores excêntricas
Oscilava d'um vermelho insólito
A um anomâlo laranja assombrado
Então rumei a limoeiro apressado
Combalido qual adicto alcoólico
A tarde já foi. Cheguei finalmente.
Posiciono um espelho a minha frente
E vejo em mim o sol transfigurado
Quebro-o com a força de minha mão
E nos pedaços todos pelo chão
Há milhares d'um eu desfigurado..